A Recuperação Que Ninguém Podia Ter Previsto
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Agosto é para muitos considerado como o mês internacional das férias. Esta tendência que parece ter já várias décadas de tradição, continua em full force. No imobiliário, não é exceção. É seguro admitir que é dos meses mais parados do mercado - um mês em que grande parte das empresas e fundos de investimento entram em férias, deixando o mercado em pausa. Curiosamente, pode-se até ver este fenómeno como o verdadeiro reset do ano para o mercado, um verdadeiro calendário que vai de Agosto a Agosto, em vez do tradicional Janeiro - Dezembro.
Este ano tive a oportunidade de usufruir de uma semana de férias no Algarve. Este é um destino que, por norma, visito pelo menos uma vez por ano na altura do verão. No entanto, estes dois últimos anos, como é de esperar, fizeram com que o Algarve se tornasse uma experiência diferente daquela que sempre é - um destino de renome com um dos maiores paraísos do mundo, famoso pela sua energia e afluência turística. Perante o retorno a uma vida mais normal, a recuperação do turismo irá ser lenta, mas progressiva. Pelo menos, era o que eu pensava.
Para a maior das minhas surpresas, há muitos anos que não via o Algarve tão procurado. O panorama era o seguinte: seja qual fosse a praia para que fôssemos, era muitas vezes difícil arranjar um espaço para estender a toalha; a partir das 19h15, quem não estava já sentado à mesa num restaurante, só iria acabar por jantar depois das 23h00; em Vilamoura, tal era a quantidade de pessoas na Marina, que se tornava complicado passear; Hóteis de 3 a 5 estrelas em overbook, com o nosso a apontar para um total 112% de ocupação, e a lista continua.
Fotografia por Victor Malyushev em Unsplash
Há meses que ouvimos que a recuperação do turismo em Portugal, uma das maiores fontes de rendimento do país, irá notar-se progressivamente. O que ninguém conseguiu calcular foi, de facto, o quão expressiva seria esta recuperação tendo em conta a vontade das pessoas voltarem à vida normal. Por conseguinte, o "cansaço" da pandemia traduziu-se num fenómeno de enorme espetacularidade que não se fez sentir apenas no Algarve, como um pouco por todo o país. A questão que se impõe é: que impacto é que isto tem no investimento imobiliário?
Como avança uma notícia do jornal Público, de acordo com os dados divulgados esta sexta-feira pelo INE, o sector do alojamento turístico teve proveitos totais de 212,2 milhões de euros no mês Junho em análise, quatro vezes acima de Junho do ano passado. No entanto, recuando para Junho de 2019 (ano em que foram batidos novos recordes), o encaixe agora conhecido é inferior em 54%. No topo das receitas ficou o Algarve, com 79,6 milhões (+357%), o que equivale a 37% do total, seguindo-se a Área Metropolitana de Lisboa com 36,8 milhões (+417%). O Norte teve proveitos de 30,1 milhões (+187%), seguindo-se o Centro com 21,6 milhões (+187%) e o Alentejo com 18,6 milhões (+105%). O panorama de investimento é, portanto, extremamente apelativo para os investidores que procurem capitalizar nesta tendência.
O respeitado site Hotel Business, aponta para o recente relatório da JLL "Pesquisa Global de Opinião do Investidor em Hotéis", enaltecendo que a atividade de investimentos no primeiro semestre de 2021 chegou a US 30 biliões de dólares.
«Este nível de volume de vendas representa um forte aumento de 66% ano a ano e apenas 4% menos do que a atividade observada no primeiro semestre de 2019. Sendo 2021 praticamente um ano de duas metades, o ritmo da atividade de investimento deve acelerar ao longo da segunda metade do ano. Mais da metade dos investidores responderam que implementarão uma estratégia de aquisição de investimento mais agressiva em 2021, à medida que se tornam mais prospetivos, com 29% dos entrevistados indicando interesse em mais de $200 milhões em ativos, mais 25% do que o registado durante o início de a pandemia.
Os investidores em hotéis estão de olho na Europa, América do Norte e Sudeste Asiático conforme a atividade aumenta. Os investidores de olho em ativos europeus são encorajados pela crescente taxa de vacinação, com muitos expandindo as suas estratégias para considerar mercados menos densos, com a diversificação de ativos sendo a maior prioridade.
Além disso, o sentimento dos investidores sugere que os hotéis com serviço "tudo incluído" sofrerão os maiores descontos, já que os hotéis económicos foram menos afetados pela pandemia e ainda podem ocupar quartos. Na verdade, quase 50% dos entrevistados expressaram que as melhores oportunidades de investimento que surgirão nos próximos seis meses serão hotéis de "tudo incluído".»
É verdade que não gostamos de ser aqueles que dizem: "nós avisámos". Mas na verdade, é algo que apoiámos desde o início da pandemia. A resiliência e investimento na melhoria dos ativos de hospitalidade são duas estratégias cruciais para perdurar e prosperar neste setor imobiliário na pós-pandemia. Agora, está na altura de colher os frutos do tremendo bounce back registado do turismo.